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O dia-a-dia em pequenas histórias

Diário de bordo

A aventura na Peninsula Valdes


Friday, January 23, 2009


Bom,

Estamos novamente em Puerto Madryn. Acabamos ficando mais um dia aqui antes de seguir para a peninsula Valdes porque estava muito bom. Como sempre acontece nas cidades maiores conhecemos gente do mundo todo e cada mesa que sento pra tomar uma cerveja com argentinos é um curso completo de castellano. E de tanto encontrar franceses e ouvir o Vincent falar frances eu já estou compreendendo um pouco de frances tambem. Alias, os franceses e os brasileiros geralmente sao os tipos mais legais.

É incrivel porque os personagens, as pessoas, vao surgindo durante a viagem e é como se fosse um livro. É impressionante a quantidade de gente que tenho conhecido.


Peninsula Valdes - Patrimonio da Humanidade ou área privada?

No 77º dia da minha viagem saimos para a Peninsula Valdes. Foram 95km até a cidade de Puerto Piramides. Um dos lugares mais bonitos que ja visitei.
Assim que chegamos ao camping, que é enorme, encontramos Joaquin, um muchacho que conhecemos em Puerto Madryn. Estava de bicicleta com seu amigo Luis. Decidimos percorrer a peninsula juntos.
Toda vez que eu perguntava para as pessoas se era possivel cruzar a peninsula de bicicleta me respondiam que supostamente era proibido acampar, pois se trata de uma area de reserva protegida. Mas contra tudo e contra todos nós decidimos tentar.

Ainda em Piramides apareceu um frances chamado Max, que está com a gente agora. Max já fez de trem o caminho transiberiano, cruzando toda a Russia. Visitou tambem a Mongólia, Australia e percorreu a Nova Zelandia de bike.

Antes da minha viagem eu evitei procurar saber demais sobre os lugares que passaria. EU queria descobrir sozinho e na minha ignorancia cabiam em Valdes bosques e florestas de coniferas... mas na verdade a peninsula é uma area bem maior que a ilha de Santa Catarina e totalmente deserta. Me parece que nao há fontes naturais de agua.
Imaginem uma paisagem desertica, com praias intocadas cheias de focas e leoes marinhos...

O asfalto termina em Piramides. O resto da peninsula é todo de rípio, estrada de terra com areia e pedras. Nao seria facil pedalar, mas eu saí da minha casa pedalando e nao iria desistir facil.
No primeiro dia fizemos 76km e foi muito bacana. Acampamos com uma familia amiga do Joaquim que encontramos no caminho e comemos um bom churrasco com uma temperatura de mais ou menos 10 graus.

No segundo dia seguimos para Punta Buenos Aires. Um lugarm TOTALMENTE intocado. Ficamos acampados num lugar totalmente isolado. Nao havia gente num raio de pelo menos 30km. Um dos lugares mais isolados que ja estive e creio que será dificil estar num lugar tao isolado novamente. Neste dia comecei a me preocupar um pouco com nosso suprimento de agua e confesso que pela primeira vez na viagem eu senti um pouco de medo, principalmente quando o Luis e o Joaquim sairam antes para procurar agua numa base militar que em que supostamente viviam duas pessoas.
Num momento, nao sei o que houve, mas meu GPS me traiu... Mostrava nossa posicao uns 500 metros fora do caminho que haviamos feito no dia anterior e apontava a estrada para um lugar que nao havia estrada. Nesta hora tivemos que usar nosso instindo e manter a calma... mas logo encontramos os dois e agora tinhamos um pouco mais de agua. Ufa!
Quando reencontramos Joaquim e Luis apareceu um cachorro do nada! Este cachorro nos seguiu sob Sol forte por mais de 55km até Punta Norte...

Quando chegamos em Punta Norte acampamos escondidos do pessoal da GuardaFauna, pois nao é permitido acampar na peninsula, mas para cruza-la de bike sao necessarios varios dias.
Depois que montamos as barracas o pessoal da reserva nos achou e pediu que desarmassemos as barracas... O problema é que ja estava bem escuro e isso me deixou um pouco irado... Acabamos tendo que dormir no chao do banheiro. Por sorte um banheiro limpissimo. Ah, e o cachorro que correu por 55km tambem acabou dormindo com a gente!

No terceiro dia, ja tinhamos sido avisamos que nao poderiamos mais acampar na peninsula e mentimos dizendo que iriamos voltar para Piramides, mas nao voltamos. Seguimos para Galleta Valdes, sempre seguidos de longe por uma mulher narigura na sua caminhonete... como se fossemos um perigo ou quatro delinquentes.

Para mim é um paradoxo. Se pode percorrer a peninsula de carro mas de bicicleta nao.
Logo em seguida apareceu um cara num quadriciculo e claramente tinha ordens de nos acompanhar até Piramides, mas jogamos sujo com ele rsrs... passamos em frente de uma pequena propriedade privada e o senhor que vive la nos abrigou. Ou seja, o pessoal da GuardaFauna nao podia fazer nada. Estavamos dentro de uma propriedade privada com autorizacao do dono. haha... Alem do mais eu disse que estava muito cansado e que se quisessem que fossemos a Piramides teriam que nos levar, pois seriam mais 70km até lá.

O fato é que mesmo proibido, contra a estrada ruim, contra as pessoas burocraticas e contra o vento, nós percorremos mais da metade da peninsula. Sem poluir e sem deixar um grama de lixo. Fiquei todo o tempo que quis ficar na peninsula.

Ficamos 5 dias em contato total com a natureza, fiz fotos incriveis dos animais e visitei lugares que nem mesmo os turistas argentinos visitam. No total foram 485km na peninsula.

Em alguns momentos me senti um pouco violentado e mal tratado. Pois eramos 4 pessoas inofenciveis viajando de bike... mas por algum motivo que desconheço nós incomodamos um pouco... talvez 4 viajantes independentes que levam e preparam sua propria comida, que nao compram pacotes turisticos e que nao tem guia, possam mesmo trazer problemas para a INDÚSTRIA do Turismo de Valdes.

Mas o saldo foi muito positivo... valeu a pena percorrer a peninsula. Nao foi facil... e neste momento o Vincent está mandando um email para nossos amigos reporteres de Buenos Aires, contando como sao tratados os turistas brasileiros e franceses que viagem de bike na peninsula. Provavelmente vamos sair no jornal de novo.

Nao compreendo como uma coisa supostamente Patrimonio da Humanidade, seja privada AS VEZES!... Talvez seja por isso que se cobre 8 pesos por uma coca-cola lata (6 reais), para pagar os donos da terra, os funcionarios e para engordar as pessoas que manejam o turismo massivo aqui.

Uma dica: venham por que vale a pena. Vao ver praias com centenas de leoes marinhos, focas e pinguins... e se tiverem sorte verao uma Orca se jogando em cima pra praia para comer uma foca... mas... venham de carro, de preferencia um carro a diesel bem barulhento e que faça muita fumaça. Ande sempre acima do limite de velocidade para atropelar os animais. Certamente nao serao incomodados por ninguem e vao adorar! Mas nao venham de bicicleta...

Hoje ainda pretendemos seguir para Trelew e dar continuidade a viagem para o Sul. Temos 2 amigos lá.

Vou ficar devendo as fotos ainda... acabei de quebrar meu leitor de cartao rs..







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